A jurista ressaltou os aspectos legais em torno do assunto e defendeu o casamento como comunhão de vida
A advogada Maria Luiza Póvoa Cruz concedeu entrevista para o jornal O Popular sobre divórcios e sua grande incidência entre casais com pouco tempo de união. A reportagem foi destaque da edição desta segunda-feira, 20. A jurista, que atuou por mais de uma década em Vara de Família de Goiânia, ressalta, na entrevista, que “quanto mais cedo as relações insatisfatórias chegam ao fim, menores os dissabores entre os cônjuges.” A advogada defende o casamento como comunhão de vida, tendo o afeto como sua principal razão de existência. Maria Luiza Póvoa Cruz é advogada e sócia-fundadora do escritório MLPC e Advogados Associados.
Leia, na íntegra, a reportagem publicada no jornal O Popular.
Mais divórcios, mais cedo
Levantamento do POPULAR identifica que cresceu número de separações precoces de casais, com menos de dois anos de união
Mais casais estão se separando e o tempo de duração dos casamentos está cada vez menor. Foi o que o POPULAR descobriu em um levantamento feito nos registros do cartório Antônio do Prado sobre os divórcios realizados nos meses de janeiro e fevereiro de 2007 e o mesmo período deste ano.
Trata-se de uma amostra significativa, uma vez que 55% dos divórcios são realizados no cartório. Ela mostrou que os divórcios cresceram mais entre os casais com menos de 2 anos de união: foram 2 casos em 2007 e 37 em 2015. As separações entre os que superaram a casa dos seis anos diminuíram, caíram de 16, em 2007, para 13, neste ano.
Essas separações precoces estão se tornando muito comuns, segundo a juíza da 1ª vara de família de Goiânia, Sirley Martins da Costa. Ela já homologou divórcios quatro meses e até um mês após o casamento. No levantamento feito no cartório, há dissolução realizada 8 dias após o casamento, mas a maioria se dá depois de pelo menos um ano de união.
Motivos
Por trás do fim da união geralmente há uma dificuldade financeira ou uma infidelidade, relata a juíza. A iniciativa é quase sempre da mulher, grande parte dos divórcios é consensual e os jovens são os que mais se separam. Na opinião de Sirley, por trás do aumento dos divórcios está a mudança na lei, que facilitou o fim da união. “Se for consensual, não precisa de audiência e o juiz apenas homologa o acordo; se o casal não tiver filhos, nem de juiz precisa, basta ir ao cartório”, explica.
O aumento das separações não deixa de ser positivo, na avaliação da juíza aposentada Maria Luiza Póvoa, que atuou os últimos 11 anos na Vara de Família. Segundo ela, o casamento antes era mantido em razão da dificuldade de se obter o divórcio. A legislação, baseada no Direito Canônico, estipulava um prazo longo de separação e buscava sempre um culpado. “Hoje, o que mantém os casamentos é o afeto.” Ela defende o casamento como comunhão de vida. “As pessoas buscam a felicidade e quanto mais cedo as relações insatisfatórias chegam ao fim, menores o dissabores.”
As facilidades da lei do divórcio beneficiam uma nova mulher, mais independente, observa Sirley. Essa mudança cultural é apontada como um dos fatores do aumento do divórcio pela advogada Ludmila de Castro, conselheira Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e especialista em direito de família.
Casamentos sofrem reflexo da rapidez
O gerente comercial Henrique Rocha, de 33 anos, esperou dez anos para se casar e apenas seis para divorciar. O motivo? “O desgaste do relacionamento.”
Não houve um fato, um deslize, um contratempo e o pedido partiu dela. O casal não tinha filhos e não viveu nenhum momento de crise financeira. “Creio que hoje está faltando paciência, compreensão. Todo mundo tem problema, todo mundo se estressa e chuta o balde.” A separação foi fácil, bastou ir ao cartório para colocar um ponto final na união. Mas o fracasso do primeiro não impediu o segundo casamento. Henrique voltou a se casar em 2012, dois anos depois do divórcio.
A experiência de casamento da cabeleireira Tatiane da Luz Peixoto, de 27 anos, também não foi um sucesso. Durou apenas quatro anos.
Tatiane conta que, com o tempo, o marido foi se distanciando, se distanciando, até que o casamento acabou. Foi a cabeleireira quem sugeriu a separação e ela não pretende se casar de novo. “Não pretendo me casar de novo, pelo menos por enquanto, porque casamento é muito difícil.”
Modernidade
Esse distanciamento e desgaste no relacionamento relatados por Tatiane e Henrique podem ser explicados pela psicologia.
Segundo a professora de Terapia Familiar da PUC Goiás, Vera Morselli, os casamentos atuais sofrem o reflexo da sociedade moderna, cuja característica é a rapidez dos acontecimentos. “Não se sabe se o casamento reproduz a sociedade ou se a sociedade reflete no casamento.”
Atualmente, observa a psicóloga, tudo é passageiro, os lideres, os ídolos, a moda, impulsionado pela tecnologia, e as novidades chegam a todo momento. “Trocamos muito rapidamente de roupa, de celular, de tudo, e estamos sempre à procura do novo e insatisfeitos com o que está posto.”
Além disso, os jovens que se casam sem conhecer o suficiente o parceiro não conseguem lidar com as frustrações e saem em busca de outro relacionamento que dê prazer. “Viver frustrado não faz parte da nossa sociedade que constantemente busca o bem estar”, explica Vera. A busca é pessoal. “Trocamos os projetos coletivos pelos individuais.” O individualismo se estende aos casamentos, observa. Esse comportamento não é bom ou ruim, é um momento da sociedade marcado pela falta de padrões de família.
Fonte: Assessoria de Comunicação da MLPC (com informações de O Popular) | Ampli Comunicação